A vida seguiu.
Muito mais coisas aconteceram na minha vida durante esse tempo todo, não é como se eu só tivesse vivido isso. Mas enfim.
Se eu dissesse que não pensei na possibilidade de você ir para o show, eu estaria mentindo. É claro que eu pensei. Foi o lugar que eu te vi pela primeira vez. Sei que você costuma ir lá com regularidade e sei que você mora perto. Também parece gostar do estilo de música. Ia ser bom te ver ao vivo, já que só te via por foto, mesmo que fosse só passando de longe pra ver como você estava.
Um dia passando de carro eu te avistei de longe. Olhei com cuidado, mas parecia mesmo ser você. Era o dia do meu aniversário. Me perguntei se seria um sinal, desejei que fosse um sinal.
A minha preocupação maior com o show era outra, mas claro que mantive você no fundo do pensamento.
Perdi a respiração quando vi você de longe. Estava conversando com um amigo, mas perdi minha linha de pensamento. Era como se tudo tivesse parado e só você estava em foco e em movimento vindo em minha direção. Na verdade, você estava indo na direção do bar, eu quem estava no meio do caminho. Você passou meio longe, acompanhei timidamente com o olhar, precisei disfarçar a vontade involuntária de dar um sorriso e precisei prestar atenção na conversa. Tarde demais pra pensar na conversa. Eu ficava tentando ver você no bar com minha visão lateral. Você estava demorando e meio que se perdeu na multidão. Pensei em você, pensei quando lhe vi no meu aniversário apenas ha uma semana antes. Comecei a lembrar de tudo, do desejo que senti por você. Percebi que você ainda tinha o mesmo estilo. Você parecia ter engordado muito com relação ao que eu me lembrava. (Isso parece muito insensível de dizer, mas foi o que ficou na mente) Percebi que meu amigo me olhou com uma expressão estranha, Como se tentasse advinhar o que estava no meu pensamento, já que a conversa havia cessado, não estava mais nem escondendo que não estava prestando atenção nele. Contei pra ele. "É que passou um cara aqui e eu tenho muita vontade de ficar com ele, mas eu já fiquei com o pai dele e sei que nunca vai rolar nada." Quando o meu amigo estava rindo da situação você apareceu na minha visão lateral. Fiquei imediatamente nervosa. Dessa vez você estava vindo na minha direção. Passou bem na minha frente. Fiquei triste que não olhou na minha cara, não sorriu, não me cumprimentou. Só deu tempo eu dizer pro meu amigo "é esse aqui que passou" ele brincou "pois vou sair daqui, fica com ele agora". Rimos mais da situação. Meu amigo disse que eu podia fazer a novela "Verdades Secretas" eu não entendi direito a referência, mas sorri muito porque eu soube que tinha algum cara na novela que parece que ficava com a mãe e a filha, acho que era isso. Comentei com ele que fiquei surpresa o quanto você estava mais gordo desde a última vez que havia lhe visto. Meu amigo se irritou e perguntou se eu tinha algo contra gordos, falei que não, foi só algo que observei.
Outras preocupações tomaram conta da minha cabeça. Não antes de dizer um "sabia que ele ia estar aqui" mentalmente.
O show começou. Fui lá na frente curtir a banda que gosto. Voltei pra trás, meu amigo descobriu que dava pra pegar bebida em outro lugar. Perto de onde você tava. Acompanhei ele em um momento, passei por você. Quis olhar bem nos seus olhos, quis dar um sorriso enorme. O máximo que consegui foi olhar por dois segundos, baixar o olhar e reprimir o sorriso bobo da minha cara. Nem sei se você percebeu.
A cerveja acabou lá, meu amigo foi pegar e eu fiquei perto de você. Você estava de costas, acho que nem me viu. Conversava com seus amigos, eu decidi curtir o show ali mesmo. Cantei umas duas músicas e voltei a pensar em você. Olhando timidamente, você virava um pouco, mas nunca o suficiente para me ver.
Mudei de lugar e fiquei diretamente atras de você. Você me viu, não tinha como negar. Depois de algum tempo você veio em minha direção, olhando pra mim e sorrindo. Meu coração bateu forte, se encheu de alegria. "Ele me notou." Me abraçou para cumprimentar.
Falou comigo, e disse algo que partiu meu coração.. "é um prazer te conhecer pessoalmente". Meu mundo caiu. Tentei disfarçar o máximo que eu pude, mas na minha cabeça eu estava gritando "Será que ele não lembra de mim? Como assim prazer em conhecer pessoalmente? ELE NÃO LEMBRA DE MIM!". Você continuou e disse que eu estava linda, fiquei encabulada e feliz. A conversa seguiu um pouco, você ainda com o braço em mim e eu retribuindo. Até que você pediu licença pois ia ao banheiro. A conversa foi curta, mas me deixou feliz.
Você retornou. Nos abraçamos timidamente novamente, você perguntou com quem eu tinha vindo pro show, eu disse que sozinha, percebi uma expressão de estranhamento se formando e corrigi que estava com um amigo, mas logo complementei que ele estava por aí provavelmente ficando com alguém. Para você não pensar que eu estava "comprometida" e ter certeza que era só um amigo.
Você disse que ia voltar pro lugar que estava com seus amigos, logo na minha frente e que se eu quisesse conversar era só ir lá.
Meu amigo voltou pra perto de mim, mas estava com os amigos dele, eu estava com sede e fui ao bar, me serviram um copo de vidro. Passei do lugar que estava, passei por você olhando timidamente e fui mais na frente curtir o show onde eu estava e tive que sair pois chegaram algumas pessoas fumando, dessa vez a área estava livre. Percebi que um cara que estava acompanhado estava olhando bastante pra mim, acho que ele pensou que eu retornara ao lugar por causa dele, tentei evitar olhar pra ele. Apesar de ir pra frente só pra ouvir as músicas, o proposital era passar por você pra chegar lá e não olhar pra ele. Cantei algumas músicas, bebi tudo que estava no copo, tive que retornar.
Enquanto voltava passei olhando mais corajosamente pra você, dei um sorriso, você olhou pra mim.
Devolvi o copo, meu amigo disse que tinha procurado por mim. Fiquei conversando com meu amigo e no mesmo lugar, meu amigo saiu com os amigos dele.
Quando penso que não, o show acaba. Bem antes da hora que todos haviam previsto. É claro que teria mais um BIS, era a única explicação. Todo mundo ficou esperando, mas começaram a desmontar a bateria. Todo mundo sabe que quando começam a desmontar a bateria é porque acabou mesmo.
Todo mundo triste. Conversei com meu amigo que estava chateado, era muito cedo. Percebi você indo embora. Veio na minha direção, disse que o show acabou muito cedo, se despediu eu aproveitei para dar um beijo. Eu não sei de onde veio a coragem. Até agora me pergunto. Foi tudo tão rápido. Não era pra ter sido assim, você quem devia ter dado o beijo.. mas logo em seguida você retribuiu e me deu outro beijo (é, realmente você não lembrava de mim) e fiquei tão feliz.. perguntaste se eu não gostaria de esticar um pouco em um barzinho, beber uma cerveja. Eu aceitei. Vendo que seus amigos já seguiam pra porta você me chamou, mas eu precisei me despedir do meu amigo, nos despedimos e fui na loucura do momento com você. Bateu uma incerteza, insegurança, vontade de dizer que não e voltar pro meu amigo. Peso na consciência, medo.. mas você pegou na minha mão e ficou tudo bem.
Lá fora seus amigos não estavam mais tão empolgados em esticar. Você perguntou como eu tinha ido, se estava de carro, disse que não. Seus amigos indicaram que iam embora, você ficou meio sem saber o que fazer, perguntou se eu aceitava ir na sua casa que lá tinha vinho, eu confessei que não bebia, mas olharia você beber sem problemas. Seguimos pra sua casa de carona com seus amigos, afinal era perto.
Fiquei nervosa, não acredito que estava cometendo essa loucura na frente de tanta gente desconhecida ainda por cima.
Quanto nervosismo. Você foi falando com seus amigos o tempo todo, eu me concentrei em continuar segurando a sua mão e buscar um pouco de coragem ao acariciá-la. Me deu um conforto quando você reciprocou o carinho.
Chegamos lá, eu queria enfiar minha cabeça num buraco e me esconder de todo mundo. Quanta loucura e quantas testemunhas. Agora era tarde demais, respirei fundo e segui você.
Eu tentei ser bem forte. Imaginava que ia ser tudo perfeito e naquele momento definitivamente eu sabia que não seria. Tinha que ser perfeito. Foi difícil sair da minha cabeça. Tantos pensamentos e também tanta culpa. Não conseguia tirar a ideia de que você não lembrava de mim. O meu desejo era maior. Tanto desejo acumulado. Acabei desistindo da ideia de ser perfeito, já que a combinação de como tudo aconteceu era tudo menos perfeito. Era melhor aceitar a imperfeição. E foi muito bom. Muito bom estar contigo. Seu beijo, seu abraço. Tudo. Me deixaste muito feliz. Como você é carinhoso. Tive do meu lado a pessoa que eu sempre imaginei que você fosse. E nossa conversa, finalmente coisas em comum, finalmente tudo se encaixando. Poderia explodir de alegria.
Quando já nos despedíamos eu tive mais uma comprovação de que você realmente não lembrava de nada. A sensação era que estava mentindo pra você. Aquilo me destruía por dentro. Principalmente porque sinceramente é algo que não significou nada para mim. Por conta disso eu sei que nem posso mais manter você no pensamento.
Depois de tudo, vi um lado ainda mais diferente de você. Mais confirmação da pessoa que eu imaginei que você sempre foi. Era essa pessoa que, mesmo sem conhecer, eu me senti atraída pela primeira vez. Era por essa alma que a minha desejava. Chorei. Chorei muito. Chorei por perceber o quanto eu queria você. Chorei pelo meu lado Lucinda sempre a procura de um Horácio e que, estranhamente, essa minha metáfora nunca fez tanto sentido, se encaixou sem eu saber. Chorei por saber tudo o que você passou. Chorei pelas besteiras, infantilidades, pelas coisas tão suas. Chorei pelas suas angústias. Chorei de um ciúme bobo. Chorei pela vontade de estar ali do seu lado em cada relato que lia. Chorei por querer estar ao seu lado. Chorei por querer te dar outro abraço. Chorei por querer que o passado se apagasse. Chorei por me sentir um monstro, uma mentirosa. Chorei por saber que nunca vai dar certo. Chorei porque queria que fosse eu. Chorei porque eu sabia que você não ia mais ligar, tal pai, tal filho.
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